23 de Abril de 1974
O frio obriga Otelo a recolher-se no carro, estacionado na Avenida Sidónio Pais. Com os sobrescritos vai um exemplar do jornal marcelista "Época", que funciona, por ironia dos golpistas, como identificador dos elementos de ligação.
Os fuzileiros fazem saber que no mínimo serão neutrais, para alívio dos conjurados. A informação é dada por um eufórico Vítor Crespo a Vítor Alves e Otelo, que, em casa do primeiro, efectuam uma rápida reunião com elementos da Armada. A hora H fora entretanto marcada, em definitivo, para as três da madrugada.
"O mês de Abril, tal como sucedera com o de Março, foi, praticamente todo ele, constituído por dias muito confusos. (...) Sentiu o chefe do Estado o perigo e a possibilidade de que alguma coisa de mais grave poderia suceder, embora longe de supor o que, de facto, viria a acontecer. Transmitia frequentemente (...) a sua inquietação e as suas apreensões a quem estava governando o País e não só. Mas apenas em meia dúzia de pessoas, quando muito, encontrava pleno acordo para esse seu estado de espírito. (...) De quanto estaria em curso, o chefe do Estado sentia que o maior risco vinha do chamado movimento dos capitães, cuja evolução no sentido político se tinha acentuado. (...) Os alarmes que chegavam ao chefe do Estado vinham em maior grau do jornalista Luís Lupi e, também, do almirante Henrique Tenreiro, mas, além desses, chegavam-lhe também doutras fontes, sobretudo os oriundos do general Kaúlza de Arriaga e do professor Soares Martinez. Acontecia, porém, que os governantes mais responsáveis pela política e pela defesa da ordem e da Nação lhe afirmavam que o que mais temiam era um golpe da direita e não da esquerda! E encabeçavam esse golpe (...) na pessoa do general Kaúlza de Arriaga e de alguns outros oficiais generais seus amigos, entre os quais o general Luz Cunha, seu cunhado (...)"
1 Comments:
23 de Abril de 2005:
Há dias demasiado longos...
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