"O que será um povo que odeia a liberdade? Eu nunca encontrei nenhum."
Clara Ferreira Alves, na edição do jornal Expresso desta semana, escreve sobre Harold Pinter e recorda excertos de uma conversa com o escritor, em 2002. Nela, Harold Pinter fala sobre a doença que enfrenta desde os 71 anos de idade ("nunca tinha estado doente em toda a minha vida", diz), sobre a sua infância, os seus pais, as suas paixões...
Ontem, por diversas razões, lembrei-me de parte desta conversa, onde ele recorda uma frase espantosa dita por uma das enfermeiras que o acompanhou durante a quimioterapia: " Ficamos para ali sentados e a enfermeira espeta aquilo no braço; ela disse-me que as células cancerosas são as que se esqueceram de morrer (...)"
E recordo outras: " Durante anos fui apaixonadamente empenhado em questões políticas mas, apesar da paixão estar intacta, sinto-me mais distanciado. Sou mais uma testemunha do que um participante que está no centro do remoinho. Não corremos o risco de ser bombardeados, de perder os nossos filhos e filhas, as nossas mães. Ou explodir por causa de uma ameaça que vem de fora. Eu cresci durante a guerra, era adolescente durante a II Guerra Mundial, assisti a uma parte do Blitz, e apesar de não ter visto ninguém morto vi o lugar onde tinham caído as bombas. Nesse tempo, as bombas faziam parte do nosso mundo. Nos últimos 50 anos, não temos tido essa experiência, importante para perceber o que aconteceu em Nova Iorque a 11 de Setembro, aquelas pessoas que não se julgavam parte deste mundo passaram a estar dentro dele. Para os americanos, foi uma experiência muito forte, enquanto para as pessoas da América Central ou do Sul, ou da Ásia, ou da Índia, ou de quase todo o lado se pensarmos bem, essa experiência é banal. As minhas posições políticas centram-se muitas vezes nos usos da linguagem, nos abusos da linguagem, no discurso político sustentado numa "novilíngua", que distorce, disfarça e distingue. O meu termo favorito é "os povos amantes da liberdade". Quando ouço Bush a dizer que somos um povo amante da liberdade e que é por causa disso que temos de continuar a lutar contra o terrorismo, interrogo-me sobre o que será um povo que odeia a liberdade. Eu nunca encontrei nenhum. É essa a retórica idiota que caracteriza muito do discurso ocidental. "
Ontem, por diversas razões, lembrei-me de parte desta conversa, onde ele recorda uma frase espantosa dita por uma das enfermeiras que o acompanhou durante a quimioterapia: " Ficamos para ali sentados e a enfermeira espeta aquilo no braço; ela disse-me que as células cancerosas são as que se esqueceram de morrer (...)"
E recordo outras: " Durante anos fui apaixonadamente empenhado em questões políticas mas, apesar da paixão estar intacta, sinto-me mais distanciado. Sou mais uma testemunha do que um participante que está no centro do remoinho. Não corremos o risco de ser bombardeados, de perder os nossos filhos e filhas, as nossas mães. Ou explodir por causa de uma ameaça que vem de fora. Eu cresci durante a guerra, era adolescente durante a II Guerra Mundial, assisti a uma parte do Blitz, e apesar de não ter visto ninguém morto vi o lugar onde tinham caído as bombas. Nesse tempo, as bombas faziam parte do nosso mundo. Nos últimos 50 anos, não temos tido essa experiência, importante para perceber o que aconteceu em Nova Iorque a 11 de Setembro, aquelas pessoas que não se julgavam parte deste mundo passaram a estar dentro dele. Para os americanos, foi uma experiência muito forte, enquanto para as pessoas da América Central ou do Sul, ou da Ásia, ou da Índia, ou de quase todo o lado se pensarmos bem, essa experiência é banal. As minhas posições políticas centram-se muitas vezes nos usos da linguagem, nos abusos da linguagem, no discurso político sustentado numa "novilíngua", que distorce, disfarça e distingue. O meu termo favorito é "os povos amantes da liberdade". Quando ouço Bush a dizer que somos um povo amante da liberdade e que é por causa disso que temos de continuar a lutar contra o terrorismo, interrogo-me sobre o que será um povo que odeia a liberdade. Eu nunca encontrei nenhum. É essa a retórica idiota que caracteriza muito do discurso ocidental. "
8 Comments:
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Muito bom. É este tipo de posts que dá força ao blog e pelos quais vale a pena vir, ler, reter.
Olá Catarina!
"Quando ouço Bush a dizer que somos um povo amante da liberdade e que é por causa disso que temos de continuar a lutar contra o terrorismo, interrogo-me sobre o que será um povo que odeia a liberdade. Eu nunca encontrei nenhum. É essa a retórica idiota que caracteriza muito do discurso ocidental. "
Só me surge um ou alguns que talvez não gostem da liberdade porque não sabem o que é perdê-la, os americanos. Que povo em consciência elege um terrorista com George Bush?!
Um beijinhos e bom fim de semana!
Joana
Jaoana,
muito obrigada pelo teu post. um bom fim de semana para ti e um beijinho
ainda bem que gostaste, MadLCP.
um abraço
C.
Enviar um comentário
<< Home