domingo, dezembro 11, 2005

Constantin Cavafy

Devo a descoberta da poesia de Constantin Cavafy ao Dr. C., que, numa sexta-feira particularmente agitada, entrou no nosso gabinete com um livro na mão, sentou-se e disse: "Vou ler-vos alguns poemas de um dos livros de poesia de que mais gosto. São poemas de Cavafy, são poemas históricos". Constantin Cavafy (ou Konstantinos Kavafis), explicou-nos, nasceu em 1863, em Alexandria, cidade onde viveu quase a vida inteira e onde morreu, em 1933. O livro, "90 e mais quatro poemas", reune uma selecção de poemas deste autor, escolhidos e traduzidos por Jorge de Sena.
Leu-nos: "À espera dos bárbaros", finíssima ironia sobre o esvaziamento das sociedades; "Ana Dalássena", que termina com uma frase lindíssima, definição sábia, quanto a mim, do amor: "nem meu, nem teu, nunca nenhuma palavra assim fria será dita"; "Ítaca", poema belíssimo e superior; "Soma", um dos primeiros poemas escritos por Cavafy, que decidi transcrever para vocês, (talvez uma possível resposta aos posts de MadLCP de Maio e Junho passados e às suas recentes perguntas existenciais):
Soma
"Não discuto se sou feliz ou não.
Mas de uma coisa faço por lembrar-me sempre:
que nessa grande soma - a deles, que eu detesto -
de tantas e tantas parcelas, não sou
uma delas. Eu nunca fui contado
para a soma total. Esta alegria basta."

1 Comments:

At 8:55 da tarde, Blogger MadLCP said...

Nestas deambulações do ser ou não ser feliz, tenho uma posição do momento: É óbvio que NINGUÉM é feliz, contas bem feitas. Isto é, vai-se sendo e os tempos mudam. No fundo, acho que o meu problema é querer a viva força ter uma razão para existir, ter um sonho para concretizar. Já tive o meu tempo de fruir grandes períodos de felicidade, se calhar tenho que me resignar que os tempos mudam, posso nunca mais atingir tal alegria, e ir-me contentando com o que a vida dá. Um pai às portas da morte, nenhum tempo livre, cada vez menos juventude e saúde, cada vez menos pessoas e amigos, cada vez mais adulto - e como tal menos sorrisos (quem inventou esta é o pai de todos os males). Outros existirão que não tiveram o que eu já tive e agora contentam-se com as suas migalhas de felicidade... Muitos existirão que se esquecem de tudo o que já sonharam e que aprenderam a esquecer. Tão bem ensinadinhos... Da parte que me toca a soma total conta, há quem não esteja é para fazer contas e aceite que qualquer conta dá o seu resultado, independentemente das parcelas que se incluam. Já dizia o outro, a ilusão é uma bênção. Sejamos então infelizes sonhadores ou satisfeitos "a-vida-é-mesmo- assim", à escolha de cada um.

 

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