domingo, julho 05, 2009

The Night of the Hunter



Sem o caricato de algumas cenas, muitas vezes envolvendo as demasiado forçadas reacções das crianças (má representação, ou propositado (?)) - mas também os vários outros personagens -, o ambiente deste filme era fantástico.

De facto, devido a demasiadas dessas oscilações entre o titilante e o patético cheguei a zangar-me com este filme. Um representante disso mesmo é o próprio Harry Powell, fantástico no geral, patético quando a acção entra ao barulho. Não posso deixar de desdizer ainda da sequência estilo “bbc vida selvagem – as margens do mississipi” da descida do rio, até estava bem, não fosse o abuso de bicharada: às vezes deve saber-se parar…

No entanto, percebi sempre que ia ficar preso ao filme, por mais que ele me traísse. Ainda mais que esses tropeções incomodativos surgiam como manchas num ambiente de fundo tão intenso, expressivo e bem dirigido, repleto de sinergia de imagens poderosas e sons mistificantes, transbordando a imagem da sua alma, o sinistro e magnético pregador.

Este filme, para mim, foi uma espécie de “Cape Fear” misturado com “M
illion Dollar Baby”. A invasão psicológica do primeiro, do seu tema, aliada ao forte carácter dos personagens que se transforma no núcleo da história, apoiado por uma sonoridade e imagens, também elas impregnadas nesse mesmo carácter; e como toda essa personalidade esbarra no patético do desenrolar da acção, no caso do segundo. E se em “Million Dollar Baby” o rumo a tragédia foi em crescendo, até jazer morta e enterrada toda obra prima inicial (e não por culpa dos actores), aqui o trágico é intermitente, talvez por isso mais redentor, por mais coeso, talvez por isso não consiga ao certo dizer se não existe alguma intenção que me ultrapassou na ingenuidade dessas cenas.