terça-feira, novembro 02, 2010

Aos meus dentes tortos

Tenho os dentes tortos, assim como a Kirsten Dunst.
São tortos, e feios, com amarelos nos brancos, como uma cama desfeita.
Encavalitam-se uns nos outros, cada um uma palavra duma canção do Godinho.
Desafinam ao Beijar. Sou Portanto “Um desafinado”, amor - podes dizê-lo assim.
Não cortam linhas como tesouras, só servem para mordiscar.
Os assobios fogem por entre as frinchas, e não os consigo prender,
São livres de voar.
São negros como o Poe.
Quando me vejo ao espelho só me apetece desatar a rir.
É que o meu sorriso é mais «nonsense» que os Python!
E no entanto, dão tanto prazer ao comer, que tenho de os perdoar
Como se faz a alguém que se ama, mesmo por tantas fraquezas;
Que nos dá aquele prazer das suas fragilidades, sua marca, seu carácter.
Sim às vezes doem-me e são acutilantes - como os poemas do Pessoa.
Entre eles há espaços, e já nem os tenho todos, se calhar são como versos.
Assustam a freguesia pois são dentes de vampiro, dignos dum filme do Murnau.
E quando sorrio derretem-se como relógios num quadro.
Acho que a “Guernica” é feita de sorrisos assim...
Nunca ficam bem numa fotografia - como o Woody.
Mas ficam bem em mim.