quinta-feira, março 23, 2006

Felicidade

Busquei felicidade uma vida
Até descobrir que, por fim,
Essa emoção mais querida
Vivia dentro de mim.
(E, nesta busca perpétua,
Hei-de viver inseguro
Procurando encontrar em mim
O que sou quando a procuro.)
Luís Eusébio

Brokeback Mountain


A história de Brokeback Mountain resume-se a isto: As vidas separadas de dois homens que secretamente são amantes. Podia ser mais uma história de romance banal. E se não o é, não se deve tanto ao factor atracção “freak” tão amplamente divulgado do filme “dos Cowboys Gays” (qual mulher barbada ou anão) mas graças ao verdadeiro forte do filme, a maneira como a história é contada. A maneira com que os acontecimentos, tantas vezes apenas implícitos ou depreendidos, forma uma estrutura fluida, é algo que eu pessoalmente aprecio, e Ang Lee fê-lo muito bem neste filme. Juntamente com boas actuações e belos cenários, o filme ganha ambiente. Para mim, trata-se de uma história que pouco me interessou, contada duma maneira muito interessante.

domingo, março 19, 2006

Anything Else



Jerry Falk: "I was just wondering how strange life is, how full of inexplicable misteries."
Taxista: "Well, you know... It's like anything else."

Maridos e Mulheres



A vida, ao contrário do que Juliette Lewis escreve neste impressionante filme de Woody Allen, não é nem uma imitação da arte, nem uma imitação da má televisão. É, talvez, um decalque de "Maridos e Mulheres": imperfeita como a imperfeição das relações de Allen/Mia Farrow, Pollack/Judy Davis, da atracção de Allen pela sua aluna (Juliette Lewis), ou da ligação entre Farrow e Liam Neeson; frágil como a câmara à mão que se move durante todo o filme e que nos anuncia, logo ao início, a separação de Pollack e Judy Davis. Um dos mais belos filmes de Woody Allen.

sábado, março 18, 2006

I say NY, NY USA




sexta-feira, março 17, 2006

O Vôo Picado da Águia

2 Semanas depois.
4 Quilos de sorte, um golo genial e pronto Benfica está a jogar que se farta e é o melhor do mundo. Os anteriores jogos, geralmente fracos, já ninguém se lembra.
Ora, 2 semanas bastaram para passar d'«o céu é o limite» para «rente ao chão é o merecido». Eliminação virtual da Liga dos Campeão; Hipoteca do campeonato; Tchau Taça. Para a semana, a realidade bate novamente com o Barcelona - desta vez duvido que a sorte seja suficiente. O irónico é que o jogo perfeito que o Benfica teve em Liverpool - O passad
or que foi a defesa do Benfica sobreviveu a 4 golos facílimos deitados pela janela pelo Liverpool e o aranhiço que lá puseram, e logo a seguir uma infantilidade dum defesa permite a jogada do golaço de Simão, estava tudo ganho, sabe-se lá como -, o irónico dizia, é que parece que o Benfica «gastou a sorte toda» para passar a eliminatória e afogou-se no próprio veneno quando viu o campeonato e a taça fugirem com Quilos de azar. De repente, já todos nos lembramos do nível mediano do Futebol do Benfica...

SLB! SLB! SLB! SLB! Desgostoso SLB , o saudoso SLB.

quinta-feira, março 16, 2006

Aveiro; finais do séc IXX


Aveiro:pormenor do Canal Central e da Pontes dos Arcos . Vê-se um chafariz junto dos arcos e a venda de cebolas.

Aveiro; 1938


Largo da Praça do Peixe, durante as cheias de 1938

terça-feira, março 14, 2006

Apontamento (por Álvaro de Campos)

A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.

Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

Lisboa, um ano depois...

"Procede deste modo, caro Lucílio: reclama o direito de dispores de ti, concentra e aproveita todo o tempo que até agora te era roubado, te era subtraído, que te fugia das mãos. Convence-te de que as coisas são tal como as descrevo: uma parte do tempo é-nos tomada, outra parte vai-se sem darmos por isso, outra deixamo-la escapar. Mas o pior de tudo é o tempo desperdiçado por negligência. Se bem reparares, durante grande parte da vida agimos mal, durante a maior parte não agimos nada, durante toda a vida agimos inutilmente."

Séneca - "Cartas a Lucílio"

quinta-feira, março 09, 2006

Benfica!!!!!!!!!!!!!!



"GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLOOO
OOOOOOOOOOOOOOO!!!. Que mais posso dizer...Golo!" - Xanana Gusmão, ontem, durante as cerimónias de tomada de posse do novo Presidente da República e depois do tiro de Simão Sabrosa.

Quadrúpedes Humanos, em Sinais de Fernando Alves



ontem, na TSF, antes das 9H00

Quadrúpedes Humanos

"Olho as imagens de uma mulher caminhando na praia, vergada ao peso de um retrocesso genético, e lembro-me de uma antiga crónica de Luís Fernando Veríssimo sobre a inadaptação da coluna vertebral à marcha erecta. Na sempre suave ironia, o cronista não fustigava a tecla das doenças da civilização. Apontava dessa vez o dedo e a escrita àquilo que chamava o mau trabalho da evolução já que a coluna humana não se adapta, pensa ele, à marcha erecta sobre os dois pés."

segunda-feira, março 06, 2006

The Man in The White








sábado, março 04, 2006

Syriana




O que é mais incómodo, em Syriana, é a constatação de que, de facto, não há heróis, gente de cara lavada, nem vilões. Não há bons nem maus: somos todos responsáveis pelas inúmeras guerras militares e económicas em torno do petróleo.

sexta-feira, março 03, 2006

Manhattan



Isaac: An idea for a short story about ... um ... people in Manhattan who ... er ... are constantly creating these real unnecessary neurotic problems for themselves - because it keeps them from dealing with more unsolvable terrifying problems about ... er ... the universe - Um, tsch -- it's, uh ... well, it has to be optimistic. Well, all right, why is life worth living? That's a very good question. Um. Well, there are certain things I - I guess that make it worthwhile. Uh, like what? Okay. Um, for me ... oh, I would say ... what, Groucho Marx, to name one thing ... uh ummmm and Willie Mays, and um, uh, the second movement of the Jupiter Symphony, and ummmm ... Louie Armstrong's recording of "Potatohead Blues" ... umm, Swedish movies, naturally ... "Sentimental Education" by Flaubert ... uh, Marlon Brando, Frank Sinatra ... ummm, those incredible apples and pears by Cézanne ... uh, the crabs at Sam Wo's ... tsch, uh, Tracy's face ...

Elevate Me Later


ouvir, por mera sorte, "Elevate me Later", a caminho do trabalho, é a garantia de um dia feliz

Esta semana... no sítio do costume



Nada a esconder
de Michael Haneke

Cinema Oita
de 2 a 8 de Março, 22h

quinta-feira, março 02, 2006

Texto de Miguel Esteves Cardoso

Primeiro, as verdades. O Norte é mais Português que Portugal. As minhotas são as raparigas mais bonitas do País. O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela. As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram.
Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas. Mais verdades. No Norte a comida é melhor. O vinho é melhor. O serviço é melhor. Os preços são mais baixos. Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia. Estas são as verdades do Norte de Portugal. Mas há uma verdade maior. É que só o Norte existe. O Sul não existe. As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et caetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta. Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte. No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista? No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro.
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país. Não haja enganos. Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. Mas o Norte é onde Portugal começa. Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte. Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. Mais ou menos peninsular, ou insular. É esta a verdade. Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma
cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte.
Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente.
No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa. O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade. Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas.
O Norte é feminino. O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso. As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito.
Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem.
As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. Só descomposturas, e mimos, e carinhos. O Norte é a nossa verdade. Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores.
Depois percebi. Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo.
Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente. No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima.
Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os-Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar.
O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm de dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?