Devo a descoberta da poesia de Constantin Cavafy ao Dr. C., que, numa sexta-feira particularmente agitada, entrou no nosso gabinete com um livro na mão, sentou-se e disse: "Vou ler-vos alguns poemas de um dos livros de poesia de que mais gosto. São poemas de Cavafy, são poemas históricos". Constantin Cavafy (ou Konstantinos Kavafis), explicou-nos, nasceu em 1863, em Alexandria, cidade onde viveu quase a vida inteira e onde morreu, em 1933. O livro, "90 e mais quatro poemas", reune uma selecção de poemas deste autor, escolhidos e traduzidos por Jorge de Sena.
Leu-nos: "À espera dos bárbaros", finíssima ironia sobre o esvaziamento das sociedades; "Ana Dalássena", que termina com uma frase lindíssima, definição sábia, quanto a mim, do amor: "nem meu, nem teu, nunca nenhuma palavra assim fria será dita"; "Ítaca", poema belíssimo e superior; "Soma", um dos primeiros poemas escritos por Cavafy, que decidi transcrever para vocês, (talvez uma possível resposta aos posts de MadLCP de Maio e Junho passados e às suas recentes perguntas existenciais):
Soma
"Não discuto se sou feliz ou não.
Mas de uma coisa faço por lembrar-me sempre:
que nessa grande soma - a deles, que eu detesto -
de tantas e tantas parcelas, não sou
uma delas. Eu nunca fui contado
para a soma total. Esta alegria basta."